Desbravando a Loucura

terça-feira, 11 de novembro de 2014

FUGA DA CAVERNA

                                    

Abandonando o modo comum de consideração das coisas, o homem torna-se o
sujeito puro do conhecimento, que, segundo Schopenhauer, é capaz de apreender os
objetos fora de suas relações com tudo o que é exterior a eles, justamente por ver a
essência do objeto que está expressa em todas as suas relações possíveis, e de onde
todas elas partem. O conhecido não é mais a coisa particular, mas a Idéia, a forma
eterna e imutável desse objeto, que é verdadeiramente em todos os tempos e lugares, de
acordo com a doutrina das Formas (Idéias) de Platão. Esse modo de conhecimento é
puramente intuitivo, encontrando-se em oposição direta ao conhecimento mediado por
conceitos, ou seja, o conhecimento abstrato ou racional. Logo, é no domínio intuitivo
que encontramos as Idéias platônicas, que são utilizadas por Schopenhauer para
designar os diversos graus da Vontade, nos quais sua essência se manifesta,
constituindo todo o mundo como representação do qual possuímos conhecimento. São
essas Formas (as Idéias), e não as suas cópias (os fenômenos particulares), que serão
apreendidas no novo modo de conhecer apresentado, que é o conhecimento estético. No
§ 36, vemos que a obra de arte traz à luz as Idéias, as formas essenciais dos fenômenos
que chegaram ao gênio através da pura contemplação intuitiva, e que, totalmente
isoladas, tornam-se representantes de um todo.
A capacidade de retirar do mundo o essencial e torná-lo objeto da arte é
característica do gênio, embora a capacidade de contemplar tais Idéias (através de suas
cópias apresentadas pelas obras de arte ou pela própria natureza) se encontre distribuída
em todos os homens, mas em graus bem menores, segundo Schopenhauer. Por isso, para
o indivíduo comum, é mais fácil ver algo das Idéias na arte do que na natureza, pois na
observação de um quadro ou escultura, não se volta para seus interesses e para as
relações que a obra de arte possa ter com seu querer, mas é impelido, de certa forma, a
contemplá-los de maneira desinteressada. Essa dificuldade em observar uma obra
através de um olhar interessado se daria devido ao fato de que o único objetivo da
criação artística verdadeira é comunicar as Idéias que foram apreendidas pelo criador.
Os homens comuns, que, em oposição aos gênios, são destituídos de uma maior
inclinação para a contemplação intuitiva, não conseguem encontrar nas obras de arte
alguma utilidade, pelo menos não com a mesma facilidade com a qual encontrariam um
uso para as coisas que lhe são oferecidas pela Natureza.

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